12.10.17

Pérola de abrigo: quando fugir é a única saída

João Carlos Malta (texto, fotos e infografias), in RR

São entre três e quatro mil, não há números exactos. Os luso-descendentes fugidos da Venezuela chegam à Madeira psicologicamente exaustos. Deixaram para trás uma vida, mas também o medo da fome, dos raptos, da morte. Na ilha tentam um novo começo.

São mais de 5.700 quilómetros de distância. Era uma cidade com dois milhões de habitantes e agora é uma vila com pouco mais de oito mil pessoas. É quase um oceano o que separa Caracas da Ponta do Sol, na Madeira. E há uma barreira que vai demorar tempo a saltar: a da língua. São muitas mudanças, centenas de coisas novas, mas mesmo assim os olhos de Estefany, de 16 anos, e Jéssica, de 13, brilham.

Dois dias antes de começarem a escola num país que não é o seu, sem os amigos de sempre, com um idioma que não dominam, olham para a frente com esperança. Mais do que isso, uma alegria que já tinham esquecido.

Estefany é a mais velha de três irmãos (além de Jéssica, há o menino da família, de seis anos), e um dos 300 luso-descendentes que, pela primeira vez este ano, começaram a escola na Madeira. Está na nova casa em Ponta do Sol, onde para chegar é preciso que o carro tenha uma boa primeira velocidade e algum fôlego. Tem de se subir, subir e continuar a subir, até quase não haver mais estrada. Estão em Portugal na companhia dos pais há pouco mais de um mês.

A adolescente olha para trás com alívio. Deixou um país onde vivia em liberdade condicional, sendo que o único crime que cometeu era estar no sítio errado. “Na Venezuela não podemos andar na rua. Sabemos que vamos ser roubados. Convidavam-me para uma festa e eu já não ia. Tinha medo de sair de casa”, recorda.

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As irmãs Estefany e Jéssica exploraram os cantos todos da nova “casa“, a secundária da Ponta do Sol

A segurança, sempre a segurança. A cada conversa com um luso-descendente, dos três a quatro mil que nos últimos meses chegaram à Madeira vindos do país sul-americano, o tópico repete-se. Se não é o primeiro a vir à baila, espera pouco até surgir como tema. Estefany diz que não se sentia tranquila em lado nenhum, nem na escola.

Jéssica ouve-a com toda a atenção e interrompe a irmã para dizer o quão bem se sente na ilha da Madeira. Sair de casa sem ter de olhar para todos os lados, e quando quer, é um bem que começou a rarear e que voltaram a reencontrar. “Aqui podemos ser livres”, resume a menina de 13 anos, que vai começar o 7º ano.

Coisas simples como caminhar voltaram a ser normais. “O que mais fazemos é passear porque lá não se podia. Estávamos presas em casa.”
Quando a saída é a única saída

Para elas, a decisão de abandonar a Venezuela foi mais fácil do que para os pais, José e Rita. Desde Janeiro que as duas irmãs contavam cada dia que faltava até partir. Em Abril, o agravamento dos protestos fez com que o que parecia impossível se tornasse uma urgência.

É verdade que a loja de ferragens da família era ainda lucrativa, é verdade que tinham um bom apartamento, é ainda mais verdade que a Madeira era só uma imagem de férias.

Mas os raptos junto às escolas, a falta de alimentos nos supermercados ou a coacção dos polícias (as duas viam-nos sacarem os telemóveis a quem passava e a exigirem o código de acesso para ver se tinham alguma coisa escrita contra o governo de Maduro nas redes sociais) fizeram crescer o sentimento de imprevisibilidade que passaram a experimentar todos os dias.

Não havia sinais que indicassem que a situação fosse melhorar. A família cansou-se de esperar que isso acontecesse. Mais do que isso, olhavam para o futuro e não gostavam do que viam. Mas houve uma gota de água que fez transbordar o copo. “Vão mudar tudo na escola. Vai ser tudo socialista. Não vai haver escolas privadas e vai tudo no sentido de que o [Hugo] Chávez [ex-Presidente da Venezuela, antecessor de Nicolás Maduro] é o máximo. Não estou de acordo”, exprime a mãe Rita, filha de pais que há mais de 40 anos saíram da Madeira.

“Os meus filhos têm de crescer e de conhecer tudo. Têm de ter liberdade de decisão entre o que é bom e o que é mau. Não quero que os meus filhos cresçam com uma tendência política. Quero que decidam se querem ser socialistas ou democratas. Não quero que seja imposto. Isso foi a última coisa que nos fez decidir”, identifica.

A meia hora dali está Manuel. Aos 10 anos, os olhos azuis e toda a face transbordam de entusiasmo quando se junta aos amigos da nova turma na escola da Levada, no Funchal. Ainda não é o dia oficial de começo das aulas, mas o secretário regional da Educação, Jorge Carvalho, deslocou-se ali para assinalar o início do ano lectivo.

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Manuel está ansioso por fazer novos amigos

Está com “ganas” de fazer novos amigos. Ainda não aconteceu. Mas há algo que já mudou: na Madeira pode viver sem medo. Pelo menos q.b., porque Manuel não esquece os familiares que estão na Venezuela – o receio de que algo lhes possa acontecer permanece.

Está há um par de semanas na Madeira, mas desde o primeiro dia que a vontade de começar a escola lhe preenche o pensamento. “Quero aprender e estudar. Gosto muito de vir ao colégio!”

Meia hora depois, e após a primeira visita guiada à escola, na companhia do primo que já ali estuda, está feliz da vida. “Gostei muito da biblioteca, tem muitos livros, e das salas de aula também. São bastante boas”, refere.
Uma ilha mais nova

A educação e a saúde são as áreas em que a chegada de luso-descendentes à Madeira gera mais impacto orçamental, aponta Jorge Carvalho, que coordena as políticas de educação da região. Na conversa com a Renascença, dirá, mais tarde, que a integração das três centenas de jovens tem decorrido sem dificuldades. Uma parte da explicação reside na diminuição da natalidade e de alguns dos estabelecimentos escolares terem “turmas já com números muito abaixo dos valores referenciais”. A chegada destes estudantes vem “colmatar a perda significativa de pessoas no sistema”.

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Luso-descendentes rejuvenescem a Madeira, diz o secretário regional da Educação

Já é segunda-feira e às 6h00 começa o dia de Jéssica e Estefany. Agora não serão os pais a levá-las de carro, como acontecia na Venezuela. A dezena de quilómetros que as afasta do centro da Ponta do Sol será cumprida numa das camionetas públicas.

Ainda não são 8h00 quando chegam à escola, querem-lhe explorar os cantos. A “casa” é nova para elas. Sobem as escadas dos dois pisos do estabelecimento de ensino, mas há logo uma funcionária que lhes diz que não podem estar ali porque ainda falta algum tempo para as aulas começarem. No entanto, desta vez puderam. Estar com um jornalista ajudou-as a ultrapassar a barreira das regras. Mas só desta vez.

Sentadas à porta da sala em que Estefany terá a primeira aula do ano, as irmãs mostram-se serenas. Afinal, não há assim tantas diferenças. Jéssica, a mais nova, atira: “Não estou nervosa. Estava mais quando entrei no primeiro ano na Venezuela. Não é uma coisa do outro mundo.”

Estefany verbaliza que apenas a língua será uma barreira. “Mas vamos pouco a pouco”, diz. Também o inglês e o francês, com pouca expressão na Venezuela, poderão ser mais difíceis de acompanhar. Já é hora de Estefany entrar na aula de Matemática. Senta-se na primeira fila. Para já sem colega de carteira.

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Estefany começou o ano lectivo a ouvir falar de catetos e hipotenusas

A professora Olga passa em revista os temas que vão ser leccionados ao longo do ano. Vai fazendo perguntas que misturam catetos com equações de segundo grau e a adolescente que veio da Venezuela quer sempre responder. Fá-lo depressa, ansiosa por demonstrar que sabe. Fala em castelhano e cada vez que o faz há uma risadinha que ecoa ao fundo da sala. As reacções não a inibem, de todo.

No final da aula, a professora Olga, também ela vinda da Venezuela, como ainda se nota em algumas palavras, diz que a integração na turma e a adaptação à língua serão decisivas. “Sei porque senti isso. Vim da Venezuela directamente para a universidade e foi um bocado complicado. Há muitos conteúdos que não têm equivalência. O 9.º daqui não tem nada a ver com o de lá”, concretiza.
Em cada professor um psicólogo

Na escola básica do Caniço, povoação colada ao Funchal, dá aulas uma das pessoas que provavelmente mais experiência tem a lidar com a chegada de venezuelanos à ilha. Até porque foi uma das que voltou à Madeira, depois de 20 anos nas terras de Simón Bolívar.

Lídia Albornoz é professora e uma espécie de faz-tudo dentro da comunidade de luso-descendentes que estão a regressar. Ajuda em toda a parte burocrática, dá aulas de iniciação ao português a adultos e acompanha os pequenos que lhe chegam à sala de aula.

Em que é que se torna diferente lidar com estas crianças? “Nota-se um olhar muito parado, estão sempre a pensar em alguma coisa”, ilustra. A motivação é parte fundamental do processo de ensinar e com estes meninos ainda mais. “Vêm superdesmotivados e com muito medo de chegar à escola. Não entendem o que dizemos”, explica.

Antes de avançar para o conhecimento, o professor tem de fazer um desvio pela psicologia. “Tens de dizer que vai correr tudo bem e que é difícil no início, mas que depois vão gostar da escola e dos amigos.” Coisas simples de dizer, mas complexas de executar.

“Temos de falar com eles em português e incentivá-los à leitura. A única forma de praticar é falar e fazer amigos portugueses”, não duvida a professora Lídia, mesmo reconhecendo que o primeiro impulso que têm é o de se juntar com outras crianças vindas da Venezuela. Reconhece que, muitas vezes, o processo é complicado pelas famílias que recusam largar a língua – não querem que os filhos deixem de falar castelhano.

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Lídia dá aulas no Caniço. É uma espécie de faz-tudo da comunidade de luso-descendentes da Venezuela

Lídia passou por aquilo que estas crianças estão a passar agora, “talvez mais pequenina”, quando chegou à Venezuela, e depois deu uma volta de 360 graus para voltar a sentir o mesmo. Quando regressou a Portugal e entrou na universidade, punha-se "à frente" e não percebia os professores. "E sou portuguesa.” “O vocabulário era diferente e foram muitos anos a falar outra língua”, acrescenta.

Anos depois, é ela que está do outro lado, o dos que ensinam. Ainda há um mês deu um curso rápido de 16 horas a 64 pessoas acabadas de chegar da Venezuela. “É muito complicado para os que não sabem a gramática do castelhano chegarem aqui e tentarem educar um aluno em português. Eles sentem muita dificuldade”, defende.

Independentemente de todos os problemas que vão encontrar, sobretudo o do emprego, os pais de Jéssica e Estefany deixaram para trás uma realidade dura, que é agora apenas recordada.

“Estamos contentes porque quando vamos ao supermercado é uma glória. Há mais de dois anos que não víamos prateleiras com produtos. Lá estão vazias e tens de te conformar com o que há. Não podes escolher o arroz. O número do bilhete de identidade é que determina se podes ou não, e o quê”, lembra Rita.

Pior ainda era a questão da saúde. Ou a falta dela. “O meu filho nasceu com uma condição especial. Perdeu um rim. No hospital especializado em diálise, estão a morrer meninos porque têm uma simples infecção”, argumenta. “Ele tem as vacinas em atraso porque não há”, acrescenta.
Uma princesa que acelera decisões

Foi exactamente a falta de medicamentos e de condições mínimas de cuidados médicos a fazer a família Marquéz (nome fictício) a sair do país. São 12, maioritariamente crianças, e voltaram todos para uma casa de família de uma das mais populosas freguesias do Funchal. Vieram com a ideia de passar férias, dar um tempo, parar para pensar, sem ter a violência como cenário e a decadência do país que amam como centro da acção.

Não querem dar os nomes verdadeiros porque o irmão que permanece na América do Sul assim os aconselhou. Relatou que estão a ocupar as casas e as propriedades dos que sabem que saíram. Não querem correr esse risco. Têm receio.

Acima de todos, foi a princesa da família, a pequena Maria, o motor de todas as decisões. Uma paralisia cerebral deitou a menina numa cama, onde é o alvo de todas as atenções e cuidados. Percepciona-se que são um grupo que funciona como um corpo uno, em que as partes olham para o todo.

Olívia é a mãe. Dedica a vida toda a Maria. São oito anos de exclusividade. Não a deixa. A angústia aumentava na mesma proporção que os medicamentos rareavam nas farmácias e hospitais. A solução era muitas vezes ir buscá-los fora do país, à Colômbia, mas havia sempre o risco de os comprimidos serem confiscados no aeroporto. A menina precisa de quatro anticonvulsivos, três vezes por dia. Uma falta é um sofrimento infligido à menor.

Isso era difícil, mas possível. Impossível é travar a saída dos médicos especialistas que tratavam da filha para os Estados Unidos ou outros locais. Dizem assustados que a Assembleia Constituinte, entretanto formada, quer aprovar uma lei que proíbe a saída de crianças do país. O sinal passou de laranja a vermelho. Foi o detonador para a saída dos Márquez.

“Deixámos tudo, é verdade, trouxe duas malas. Pensava que vínhamos de férias, queríamos ver o que se passava, mas cada vez está pior”, sintetiza Olívia.

Maria levou Olívia a olhar por ela, mas também para todas as crianças que vivem na mesma situação na Venezuela. A mãe, de 40 anos, diz que são muitas. Em condições muito piores.

“Antes ajudava, comprava muitos medicamentos para oferecer, porque podia-se consegui-los. Mas agora já não existem. Há muitas pessoas de outros países que enviam por um familiar, por um amigo, ou têm a sorte de o poderem fazer pelo correio”, explica Olívia.

A chegada à Madeira há um par de semanas melhorou a situação, ainda assim Olívia diz que a filha não está a ter todos os cuidados de que necessita. Na Venezuela, quando o país funcionava, tinha uma equipa de seis médicos a vigiá-la. Na ilha, a época de férias não estava a ajudar o processo a acelerar. Já faz um mês que foi vista por um neurologista; depois, foi a um pediatra e a um nutricionista. Sabe que as listas de espera para ter um médico de família são enormes, mas espera que a condição da filha ajude a que tudo seja mais rápido.
Saúde “em pré-colapso”

A questão dos medicamentos é a que mais impacto está a ter nas contas da saúde da região. O presidente do Conselho Regional da Ordem dos Médicos, António Pedro Freitas, relata que há pessoas que vão às consultas buscar medicação para enviar para os familiares na Venezuela. Há mesmo quem faça viagens de ida e de volta para levar produtos farmacêuticos.

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Sistema está à beira da ruptura, diz o presidente do Conselho Regional da Ordem dos Médicos

“Isto, às vezes, até nos coloca numa situação menos boa porque como médicos não podemos prescrever para quem não conhecemos. Mas estamos a falar de medicamentos de doenças crónicas e habituais, como hipertensões, patologias cardíacas, importantes no dia-a-dia e que nos mantêm vivos”, explica o médico.

“Quer se queira quer não, essa medicação é custeada pelo Estado, nomeadamente pela região. Isso traz um acrescento de custos, estamos a falar de pessoas que muito contribuíram para a região como emigrantes, mas para a Segurança Social não o fizeram porque não descontaram”, acrescenta António Pedro Freitas. Está preocupado com a chegada dos luso-descendentes porque, mesmo antes da sua chegada, o sistema de saúde já estava “falido” e em “pré-colapso”.

“Tem conseguido responder", diz, mas "a resposta é diferente da do continente, a autonomia às vezes joga contra nós. As listas de espera para uma intervenção cirúrgica chegam aos cinco, seis ou sete anos. No continente, isso já não existe”, identifica. “A esperança de vida da Madeira é inferior em quatro a cinco anos à do continente. Isto fala por si”, acrescenta.

O secretário regional das Comunidades, Sérgio Marques, confirma que é na saúde que a ilha está a sentir o maior impacto financeiro. Além dos medicamentos, o secretário regional aponta os “tratamentos que estão a ser ministrados a um conjunto de pessoas que tem regressado, como a hemodiálise, ou os oncológicos, que são muito dispendiosos.”

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Secretário regional das Comunidades aponta impacto nas contas da saúde e da educação

As contas estão feitas e apresentadas ao governo da República “no sentido de negociar uma ajuda financeira”. “Não gostaria de avançar números em concreto, até porque não faz parte de uma política de bom acolhimento estar a revelar às pessoas que chegam aquilo que custam”, avança.

Sérgio Marques contabiliza que entre 20 a 30% das pessoas que chegam agora da Venezuela estão em “situação de grande carência”. Além da educação e da saúde, é na segurança social que o impacto financeiro na ilha mais se faz sentir. Há mil pessoas inscritas no Instituto do Emprego e Formação Profissional, que somam aos cerca de 10 mil madeirenses que compõem a taxa de 11% de desemprego que a região registava no final do segundo trimestre deste ano.
Burocracia.pt

Mas se alguns chegam “com uma mão à frente e outra atrás”, há quem aterre na Madeira com vontade de investir, mas fique preso na teia burocrática. É o caso de Cândido dos Santos. Já chegou há dois anos. A Venezuela ainda não estava tão mal como agora, mas já o suficiente para ele querer estar fora.

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Mais de mil luso-descendentes vindos da Venezuela pediram ajuda à Segurança Social

Quando lhe roubaram a mota, o puseram de joelhos e as mãos atrás da cabeça, pensou que era o último dia da sua vida. “A seguir, começaram a sequestrar meninos nas escolas e comecei a perguntar-me: o que estás a fazer? Já não podia sair de casa”, lembra, recuando a 2015.

“Lá quem rouba e sequestra são os polícias. Não há diferenças entre o polícia e o ladrão. Está tudo junto. Um ladrão passa parte do que rouba à polícia para não ser apanhado”, afiança.

Saiu da Venezuela. “Um emigrante tem sempre um pé dentro e um pé fora. Sempre pensei assim”, afirma. Mudou-se para a Ribeira Brava para “viver com as cabras” na “última casa da estrada”, mas foi no Caniço que quis criar um negócio próprio. Estaria assente num tripé: uma pizaria, um espaço de souvenirs e o aluguer de motas. Acredita que cada área puxa pela outra e que quando uma cai as outras aguentam-na. Investiu mais de 140 mil euros em fornos, bancadas, recheio da loja, obras e motas.

Tudo certo até começar a dar tudo errado. Depois de as obras terminarem (ele e mais dois homens fizeram tudo o que ali se vê), chega uma carta da Câmara de Santa Cruz a dizer que não pode abrir ali uma pizaria.

“Afirmam que o alvará não condiz com o que está na propriedade horizontal. Um fala de restauração e outro de comércio”, conta. O advogado disse-lhe que não havia problema. Mas houve.

Desde então tem vivido um filme de suspense de série B. Cada vez que tenta seguir com a vida em frente há mais uma coisa: ou uma acta do condomínio ou a alegação de que um contrato-promessa de compra e venda não é suficiente. Queixa-se que em Portugal é “tudo de boca”.

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Cândido, Carolina e a pequena Camila sonharam abrir uma pizaria, mas estão presos numa teia burocrática

Mesmo que não queira, é impossível não pensar em xenofobia. “É tudo treta. É por eu ser venezuelano... Criam-me uma tormenta na cabeça”, queixa-se. Até agora perdeu todo o dinheiro que investiu e já foi obrigado a vender as motos que tinha comprado. Apenas a loja de souvenirs pode funcionar.

“O stress é muito grande. Às vezes passo três, quatro, cinco dias sem dormir. Tu não percebes... trazes dinheiro, queres fazer um investimento, queres fazer uma obra, não estás a estorvar ninguém. Não pedimos empréstimos, foi tudo do meu bolso. E depois, é uma coisa hoje outra amanhã”, defende.

Distingue os políticos, que não tem dúvidas que não gostam de quem vem da Venezuela, do resto da população. “Se gostam de ti consegues tudo, se não gostam não consegues nada. Não percebo essa política. Olho para outros negócios aqui em Santa Cruz e não têm 10% das condições que eu tenho e estão a funcionar. Desde que começou a obra já tive cinco ou seis inspecções da câmara. Num país em que tudo está torto, querem tudo direito”, irrita-se Cândido, que vive com a mulher, Carolina, e as duas filhas, de cinco e sete anos.

A história de Cândido não é única, são várias as vozes dos luso-descendentes venezuelanos que se têm levantado em relação a situações similares. A presidente da Associação de Comércio e Indústria do Funchal (ACIF), Cristina Costa, não enjeita as críticas à burocracia nacional.

“Portugal e a Europa vivem numa teia de regulamentos, directivas e leis que abundam. Não temos um país liberal, vivemos uma doença legislativa permanente. Os latinos são os que mais leis fazem. Esse é um problema estrutural da economia portuguesa”, sentencia.

O Governo Regional já identificou o problema. “Não é específico das iniciativas de investimento de quem regressa da Venezuela. É comum ao investimento em Portugal e na região. É óbvio que estamos a fazer tudo para aligeirar esses constrangimentos”, garante o secretário regional das Comunidades.

A presidente da Associação de Comércio e Indústria do Funchal diz que o regresso dos luso-descendentes está a ser também uma oportunidade para dinamizar a economia. Alguns dos que regressaram investiram em alojamento local e empreendimentos hoteleiros, em alguns casos fazendo investimentos com parceiros locais. É uma das formas de diluir o risco porque as gerações mais novas de luso-descendentes não conhecem a cultura regional.

Num inquérito feito aos cerca de 800 associados da ACIF percebeu-se que o principal entrave à contratação é a falta de conhecimentos da língua portuguesa. Cristina Costa diz que as acções intensivas de ensino do português são fundamentais e que “um mês será suficiente para preparar pessoas para trabalhar, talvez não para o ‘front office’, mas em ‘housekeeping’ e rectaguarda”.
Sou médica, quero trabalhar, mas não posso

As outras duas questões mais enunciadas são a ausência de certificado de residência e a falta de reconhecimento das habilitações. Liz Calderón sabe bem o que isso quer dizer. Esta médica de 37 anos chegou há mais de um ano à Ribeira Brava, onde o marido tinha as raízes.

Tem dois filhos e saiu da Venezuela quando há dois anos decidiu ter o primeiro filho. Não havia vacinas para os bebés, nem leite. “Não podia ter um filho lá. Fomos para a Flórida, tive a menina e depois veio o menino, mas estávamos sozinhos”, recorda. Queriam ajuda da família e vieram para a Madeira.

Profissionalmente, também foram tempos muito complicados. Ela é médica especialista em medicina interna e doenças infecciosas há mais de 10 anos. Os últimos cinco foram terríveis. Quando saiu da Venezuela, em 2015, já rareavam os medicamentos. Quando hospitalizava um doente, “tinha de ver que antibióticos é que havia e perceber qual é que era o melhor, porque às vezes não havia.”

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Liz espera há nove meses as equivalências necessárias para exercer medicina

“Os hospitais estão saturados, não há novos. Havia pacientes que tinha de atender no chão, havia reanimações que se faziam no chão, porque não havia onde deitá-los”, recorda.

Chegada a Portugal, num momento em que a Madeira precisa de médicos, não consegue ter a equivalência do grau académico. Tem de ser a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, porque na ilha apenas só se leccionam os dois primeiros anos, a analisar o processo e uma mudança nas regras está a atrasar todo o processo.

Está à espera há nove meses. A última notícia que recebeu é que entre Outubro e Novembro terá novidades. “Espero que o novo regulamento não traga novas exigências de papéis porque isso ia ser muito difícil”, teme. “Se sou médica e a ilha precisa de médicos, têm de aproveitar todos os que chegam. Conheço um amigo que está a trabalhar noutra coisa porque tem família e não pode esperar."

Até agora, o marido sustenta a família. É promotor imobiliário. “Se não resolver o problema, tenho de fazer outra coisa, mas dá-me muita pena. Noutros países estão a aproveitar os médicos da Venezuela, como o Chile e o Peru, porque sem ter de investir na educação deles estão a lucrar com o que sabem”, lembra, ao mesmo tempo que pede ao Governo Regional que faça pressão sobre a Universidade de Lisboa para acelerar a resolução do problema.
As crianças que comem do lixo

Um problema tem também Lurdes Sousa, de quase 50 anos. Já não é nova. Veio da Venezuela quase sem nada. Tinha uma pequena loja que dava para ter uma vida sem ter de pedir nada a ninguém, mas pouco mais. Nunca tinha pensado regressar à Calheta, de onde saiu há tantos, tantos anos. Até que o medo se começou a instalar, “até dentro de casa”. “Há muita violência, muitos ataques e muitos roubos. Era insustentável”, argumenta.

É difícil nesta altura começar de novo, depois de já conquistado o direito a pensar que tinha a vida organizada. “Quando havia de tudo, conseguíamos viver mais ou menos. Agora já não estava a dar."

Lembra que há muita gente a passar fome, e é “muito triste ver crianças a morrer por falta de medicamentos”. “Há pessoas a ir buscar comida ao lixo para comer, algumas com crianças. Isso mexe com o nosso coração”, lamenta.

O filho de 16 anos chora todos os dias. Ia acabar este ano os estudos secundários e conseguir “a graduação”, lá é um ano mais cedo do que em Portugal. Está preocupado com a língua e a possibilidade de não conseguir estudar por os pais não terem posses.

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Lurdes, quase com 50 anos, vai começar tudo de novo na Madeira

Lurdes, a morar na casa da família com um irmão, está temporariamente a fazer a substituição de uma empregada do Cantinho do Jota, café detido por uma família que veio da Venezuela há 25 anos. Promete lutar com todas as forças para conseguir um emprego. “O que houver. Quero trabalhar e não sou esquisita: caixa num negócio, arrumar ou limpezas, o que quero é trabalhar”, resume.

O que a preocupa são os dois filhos de 16 e 11 anos porque os sente com vergonha, acanhados por não falarem português. “Estão com muita preocupação porque pensam que não vão entender nada na escola”, diz.

Elisabete Silva, dona do Cantinho do Jota, diz que a chegada destes luso-descendentes não é fácil, mas pode ser bom para a Calheta. “Falta gente aqui, nós estamos a passar uma fase difícil, sem movimento nos cafés. Aqui são só velhos que vivem de uma reforma que não dá para nada. Os jovens saíram todos”, relata.

Garante que irá ajudar Lurdes em tudo o que puder e até já esteve “a tentar arranjar trabalho para ela”. Ao contrário da amiga, está optimista. “Não vai ser difícil, quem quer trabalhar sempre arranja, nem que seja a ajudar um velhinho. Aqui não passam fome”, afirma.

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Na Calheta, Lurdes tem a ajuda das amigas que já vieram da Venezuela há mais de 20 anos


Na rua íngreme que passa ali ao lado do café, Elisabete avista um casal conhecido de portugueses radicados na Venezuela. José Manuel e Marlene, ambos na casa dos 40 anos, estão de férias. Vestidos com roupas desportivas de marca, percebe-se que vivem desafogadamente. Não é que a crise não lhes chegue, mas ainda não os fez quebrar.

“Temos muitos investimentos lá, passamos a vida toda a investir em casa, carros, negócios, lojas. São muitas coisas e muitos anos. Agora ninguém compra nada. Está parado e quase tudo perdido”, avança José Manuel, que se dedica à venda de peças automóveis, um sector que, diz, ainda não está paralisado.

Admitem que apenas “as pessoas que ganham muito bem” é que “comem em condições e têm cuidados de saúde”. “Ainda podemos viver lá, aguentar um tempo”, garantem.

Ainda assim, a filha mais velha já está a viver na Madeira para fazer os estudos universitários em arquitectura. Foi ela que quis vir. Também queriam que a outra filha, ainda menor, ficasse. “Mas ainda há que pensar”, enfatizam.

Não sabem o que lhes reserva o futuro e se vão poder continuar no país que amam. Têm subtraído muitas coisas a que estavam habituados, mas há uma que parece já um dano irreparável. “Já perdemos a esperança, tivemos três meses de greve, mas nada mudou. Morreu muita gente e não conseguimos nada”, explica José.

Privilegiados ou discriminados

No lado oposto da ilha está o representante da comunidade de portugueses na Venezuela, grupo cujos números informais apontam para que seja de 400 mil. O comendador António Freitas, que está a gozar os últimos dias de férias em Porto da Cruz, confirma que o problema número um é o da segurança.

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A Madeira já recebeu entre três a quatro mil luso-descendentes da Venezuela

“A comunidade portuguesa trabalha em frente ao público, somos uma presa fácil, de alguma maneira, e convivemos com todos os níveis do país, desde o bairro mais humilde ao mais clássico”, enumera.

Em relação ao número de portugueses na Venezuela que regressaram, António Freitas diz que se for verdade que são oito mil, metade na Madeira e metade no continente, então o número “é insignificante”.

As lágrimas começam a enevoar-lhe os olhos, e a voz a embargar, quando lhe perguntamos pelo futuro. Trabalha na restauração, diz que está no país há 40 anos e que vai ficar.

“Vejo o futuro com esperança e fé, porque a Venezuela não deixou de ser um grande país”, declara. É cauteloso em relação ao acolhimento que os luso-descendentes estão a ter na ilha. “Não estou a dizer que haja xenofobia aqui, mas as pessoas sentem-se um bocado discriminadas. Isso não é o governo que determina por decreto, é uma questão de consciência de cada português. Não somos extraterrestres, somos portugueses que emigrámos em busca de melhores condições, e se o momento é menos bom, procuramos regressar a casa do pai."

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António Freitas, líder da comunidade de luso-descendentes da Venezuela, diz que a segurança é o problema número um

Ana Cristina Monteira, que veio da Venezuela há já alguns anos, é advogada e apercebeu-se, no início deste ano, de que a chegada de portugueses daquele país sul-americano traria vários problemas burocráticos. Não se enganou e quis ajudar. Criou a Venecom, associação que ajuda os que agora chegam à ilha.

Diz que, no geral, o acolhimento está a ser bom, “mas há certos casos de xenofobia”. “Não é uma situação alarmante porque achamos que são situações pontuais”, defende. Na rua encontram-se com alguma facilidade pessoas que vêem os que agora chegam como privilegiados.

Leonor Ferreira, florista de 64 anos com uma barraquinha no centro do Funchal desde 1988, acha que não é bom para a ilha a chegada de tantos novos povoadores. “É verdade que houve tempo em que vinham e compraram casas, apartamentos, deixaram muito dinheiro na nossa terra. Mas neste momento temos muitos desempregados e quem está a chegar da Venezuela é que está a ter a prioridade”, lamenta.

“Revolta-me ter os nossos sem trabalho e eles chegarem e terem prioridade. Não está a haver igualdade. Tenho familiares desempregados que estão sem trabalho, não há para eles e há para os venezuelanos”, soma Leonor.

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Leonor Ferreira, florista de 64 anos, está revoltada com os supostos privilégios de quem está a voltar

Uns metros à frente, um vendedor de fruta ambulante alinha no mesmo discurso. Manuel Abreu, de 57 anos, diz que já esteve na Venezuela e defende que os que vêm têm todo o direito de o fazer. “Mas nós não temos emprego para eles”, avisa. “Aconselhava quem pode a ir para outros sítios."

Manuel diz que se todos os madeirenses que estão do outro lado do Atlântico quisessem voltar “a ilha ia ao fundo”. “Estamos num meio pequeno e não podemos receber muitos. Embora haja vontade, não há condições”, resume.
Quem está a chegar

A presidente da ACIF contrapõe: há uns anos, seria impossível acomodar a chegada de pessoas novas, mas agora é diferente. “A Madeira vive um 'boom' turístico e esta é a altura mais adequada para recebermos um conjunto de pessoas que já não são a primeira geração, são a terceira e a quarta e que podem ser enquadradas na população activa. Podem ser empregues no turismo, mas não só”, acredita.

A responsável da Venecom garante que a maioria dos que chegam tem formação superior e quer muito “trabalhar e começar de novo”. “Não vemos que as pessoas não queiram fazer nada e que venham atrás de um subsídio. A pergunta principal das pessoas é: 'eu sou de farmácia, como posso obter a equivalência dos meus títulos?'", aponta.

No entanto, a questão da falta de trabalho é central, na opinião de Ana Cristina. Além dos problemas naturais que advêm da dificuldade natural de encontrar emprego, há ainda outras questões a somar.

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A advogada Ana Cristina criou uma associação para ajudar os que estão a regressar à ilha com toda a burocracia

“As pessoas vão a entrevistas, só que não têm documentos de residência e assim não podem ter trabalho. Informei-as de que podem dizer que o processo está a decorrer, mas as empresas talvez temam os trâmites e mais papelada e optam por outros”, justifica a líder da Venecom.
Dois colchões, uma família

A falta de documentação a tempo e horas é outra questão muito importante para os que chegam. É uma desvantagem a somar a outras. Ana Cristina Monteiro diz que “faltam pessoas nos notariados”. “Se de repente tinham cinco pessoas a trabalhar para um número de pessoas, quando duplicam os que necessitam do serviço passa a ser difícil”, reconhece.

Assume que o Governo Regional está a fazer o possível para tentar agilizar os processos. São documentos fulcrais para ter acesso a uma habitação. A casa é um problema para cerca de 100 famílias vindas da Venezuela, número confirmado pelo Governo Regional.

Há pessoas que, por enquanto, estão a morar em casas emprestadas por amigos e outras em quartos. “Há casos de famílias inteiras num quarto”, lamenta Ana Cristina.

É assim que Carlos e Rita, pais de Estefany e Jhonsua, vivem desde há um mês num bairro social da Camacha, a pouco mais de 15 quilómetros da capital da ilha. Estão todos a viver na casa da mãe de Rita, em que dois colchões, um ao lado do outro, juntam toda a família. O outro quarto fica para a matriarca, já com problemas de saúde.

Rita tem o coração partido em dois: estão com ela dois filhos, mas deixou três na Venezuela, os maiores de idade. Sente-se bem na Madeira, mas não esquece a Venezuela.

Lá, no meio da incerteza do dia-a-dia, havia apenas uma certeza: cada vez ia ser pior. A comida começou a faltar, havia quando havia. A família passou a saltar algumas refeições. Rita e Carlos, que sempre se safaram qualquer que fosse o trabalho, e eles fizeram de tudo um pouco, estavam a começar a sentir dificuldades.

Jhonsua, aos 17 anos, preparou a vinda para Portugal com a tia. A mãe estava reticente, ele não. “Estou aqui por obra de Deus, não sei como. Não tinha dinheiro nenhum, nem um cêntimo. Só tinha para arranjar os papéis”, recorda Rita. A irmã Dália e a professora Lídia arranjaram os cerca de seis mil euros para pagar as viagens aos quatro elementos da família.

“Em 2011, vim e vi que tudo é diferente. A perfeição, o primeiro mundo. Lá tudo é feio, a sociedade, a educação. Sentia-me sem futuro, sentia que estava a perder tempo”, afirma o adolescente.

Mas nem todos os que vêm têm de recorrer à família e viver em condições de grandes dificuldades. Ricardo Miranda, especialista no mercado imobiliário da Madeira, afiança que a chegada de portugueses da Venezuela foi um dos muitos factores que influenciou positivamente as vendas. “Não é como no passado, há 10 ou 15 anos, em que esta comunidade era de longe a que nos comprava mais e representava uma quota de mercado muito interessante”, aponta.

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Ricardo Miranda diz que quem chega e pode comprar casa prefere agora os apartamentos às moradias

“Nos últimos dois anos houve uma grande quebra. Agora divide-se em dois patamares: um grupo que se salvaguardou e tem poupanças, muitas delas no estrangeiro; e outro que, por uma série de situações, tem os negócios na Venezuela e dificuldade em trazer o dinheiro para cá. Há ainda os que optam pelo arrendamento, um mercado onde rareiam soluções, e outros optam pela aquisição a preços extremamente controlados, 70/80 mil euros”, quantifica.

Mesmo a forma como compram casa nada tem a ver com o passado. Houve uma mudança enorme do paradigma: antigamente procuravam ter uma casa, hoje querem um apartamento. “Querem fechar a porta e ir embora para estarem descansados”, diz. “Têm muito mais cuidado. Numa vivenda, ter uma janela no rés-do-chão é para eles um factor de preocupação, porque vêm com a realidade de lá”, explica o vendedor da Remax.

Para Jhonsua tudo mudou profundamente. Os amigos estão a emigrar. Vão para a Costa Rica e outros para a Colômbia. “Nós tivemos a facilidade de a minha tia pagar, mas nem todos têm essa possibilidade e nem têm outra nacionalidade. Têm de aguentar. Todos os dias falo com eles”, afirma.

As conversas nem sempre o deixam numa situação confortável. Do outro lado querem que ele mande fotos da comida, do supermercado, e de como tudo é diferente.

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A família Aguiar veio para a Madeira para começar de novo. Não tinham dinheiro sequer para as viagens e precisam de ajuda


“Eu não faço isso, não tiro fotos. Não quero que fiquem com ciúmes, mas eles estão curiosos. Querem saber. Mas não quero dar a entender que estou melhor”, diz.

Portugal é o mais aproximado que podia estar com o que idealiza como o paraíso. Mais que não seja em oposição ao passado. “Não há comparação. Antes, a Venezuela estava bem, mas continua a ser um país com muitas dificuldades, com corrupção por todos os lados. Ela existe em todos os sítios, mas lá é um exagero. A juventude já não tem futuro”, denuncia.

Voltar para a Venezuela? “Nem de férias!”, responde. Porquê? A resposta arrepia: “Há pessoas que voltam de férias, mas depois matam-nas.”