7.8.17

Chumbei no 12.º ano. E agora?

Bárbara Wong, in Público on-line

Este pode não ser um ano perdido, mas uma oportunidade de construir um currículo alternativo à escola.

A manhã desta sexta-feira não foi fácil para alguns dos milhares de alunos do ensino secundário que fizeram os exames da 2.ª fase. Sobretudo para aqueles cuja nota ditou se passavam à próxima etapa das suas vidas, o ensino superior, ou se permaneciam no 12.º ano. Este texto é para aqueles que, no próximo ano lectivo, vão ter que repetir pelo menos uma cadeira no secundário. E para os seus pais.
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Antes de mais, é preciso não penalizar, aconselha Dulce Gonçalves, professora de Psicologia Educacional na Universidade de Lisboa. Os alunos vão sentir-se culpados por não terem conseguido passar e os pais tendem a ter uma “atitude catastrofista” e a culpabilizá-los pelo que aconteceu. “Sugiro olhar para a frente e responsabilizar”, diz a especialista. Ou seja, é tempo de ver o que fazer para que o próximo ano não seja “um ano perdido”.

Isabel do Vale, psicóloga de orientação vocacional no Agrupamento Patrício Prazeres, em Lisboa, e que faz atendimento na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, aconselha — além da melhoria das notas para fazer os exames no próximo ano lectivo e transitar— “resolver outros assuntos”, como tirar a carta de condução ou procurar competências noutras áreas como as línguas, a informática ou até a música.

Dulce Gonçalves acrescenta o desporto, mas também as actividades de voluntariado, de responsabilidade social. Ter um trabalho em part-time pode também ser boa ideia.

No fundo, este novo ano lectivo que se aproxima pode servir para construir um currículo alternativo ao escolar. “Não tem de ser um ano perdido, embora seja difícil, especialmente para quem não estava à espera de ficar nessa situação”, reconhece Isabel do Vale. “O que queremos é que daqui a uns anos este período tenha contribuído para fazer a diferença na procura de emprego, porque o aluno trabalhou, fez um estágio ou um voluntariado que o distingue”, acrescenta Dulce Gonçalves.

De resto, para terminar o secundário, os alunos têm várias hipóteses, inclusive podem, paralelamente, fazer algumas disciplinas do ensino superior.

“Temos de combater a ideia de perda, de este ser um ano perdido”, sublinha Dulce Gonçalves. Aliás, os alunos que passam por esta situação têm dificuldade em compreender que este é um “ano de oportunidades”, só muito mais tarde, quando já estão na universidade, é que o reconhecem, conta. Então, dizem que foi um ano que os ajudou a pensar, a descobrirem-se e “fazem uma leitura positiva”. “É um ano de maturação e aprendizagem”, acrescenta.

Isabel do Vale lembra que Setembro será um mês difícil para estes alunos que verão os seus amigos e colegas a entrar no ensino superior. “Em termos de auto-estima ficam fragilizados quando se comparam aos demais”, explica.

Mas a vida dá muitas voltas e ninguém diz que quem entrou no superior é que vai ter sucesso ou vai alcançá-lo mais cedo do que os outros, porque se há os que chumbaram, outros há que não vão entrar no curso que querem, ou entram e descobrem que não gostam, ou têm notas tão baixas que decidem repetir, ou mesmo regressar ao secundário e voltar a fazer exames para mudar de curso. Em suma, muitos dos amigos que em Setembro vão festejar a sua entrada no superior, no ano seguinte poderão estar numa situação semelhante à daqueles que ficaram retidos agora.

Por vezes, este é também o primeiro ano, desde o infantário, em que alguns jovens respiram, podem “saborear a vida”, estudar um pouco menos, dormir mais, diz Dulce Gonçalves. Por isso, há que encontrar um equilíbrio para que, no ano seguinte, o cenário de retenção não se volte a repetir.

Por outro lado, pode ser um ano de isolamento social, de vergonha, diz Isabel do Vale – por isso, é preciso que os pais estejam atentos. O objectivo “não é ocupá-los, mas desafiá-los”, propõe Dulce Gonçalves que lembra que além de todas as actividades que podem fazer fora de casa, também há outras que podem fazer dentro, como cozinhar, ir às compras, buscar o irmão mais novo à escola. “Eles têm de se sentir úteis, capazes, autónomos e ter auto-disciplina.”

O aluno deve inscrever-se novamente nas disciplinas que deixou por fazer e ir às aulas. Também pode aproveitar para fazer melhorias às disciplinas em que teve médias mais baixas. Se não quiser acompanhar as aulas durante o ano lectivo pode ir à escola inscrever-se nos exames como aluno externo. Nestes casos, muitos professores deixam os estudantes frequentarem as aulas, sem que tenham avaliação continua.

Ensino recorrente ou EFA
No caso em que o aluno é maior de idade e só quer completar o secundário pode optar pelo ensino recorrente, que funciona em regime nocturno. Por exemplo, um aluno que não consegue fazer o exame de Matemática pode escolher uma outra disciplina que é feita por módulos ao longo do ano lectivo e se concluir com sucesso fica com o secundário feito. Também há a opção dos cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA) que também funcionam em regime pós-laboral e permitem terminar o secundário e obter uma certificação profissional.

Ensino superior
O aluno pode inscrever-se em disciplinas isoladas ou avulsas no curso de ensino superior que quer frequentar ou até em vários cursos, de maneira a descobrir o que quer fazer. Pode inscrever-se sem se sujeitar a avaliação ou, em caso de ser avaliado, pode inscrever-se até ao limite de 50% do total dos créditos do ciclo de estudos, mas estes créditos só contam depois de concluído o ensino secundário. Nem todos os cursos abrem esta possibilidade. Há universidades e politécnicos, públicos e privados, que atraem os alunos com esta hipótese a que, alguns, chamam “ano zero”.