7.5.15

Arranque de 2015 confirma interrupção da descida do desemprego

Sérgio Aníbal, in Público on-line

Entre Janeiro de 2013 e Setembro de 2014, o desemprego em Portugal conseguiu cair dos máximos atingidos durante a crise. Mas nos últimos seis meses, essa tendência positiva deixou de se sentir.

Pelo segundo trimestre consecutivo, a taxa de desemprego em Portugal agravou-se, atingindo os 13,7% nos primeiros três meses deste ano.

De acordo com os dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego, que tinha passado de 13,1% no terceiro trimestre de 2014 para 13,5% no quarto, voltou agora a agravar-se. São mais cerca de 14.600 desempregados que são agora detectados, que conduziram a uma subida da taxa para 13,7%.

Em comparação com o mesmo período do ano passado, a evolução continua ainda assim a ser positiva. No primeiro trimestre de 2014, a taxa de desemprego era de 15,1%, ou seja, 1,4 pontos percentuais mais elevada do que o valor agora anunciado.

De qualquer forma, depois de, entre o primeiro trimestre de 2013 (quando a taxa de desemprego atingiu um máximo histórico de 17,5%) e o terceiro trimestre de 2014 se ter registado uma descida do desemprego durante seis trimestres seguidos, parece agora confirmar-se que se assiste nesta fase a uma inversão da tendência positiva ou pelo menos a uma estabilização da taxa de desemprego em valores acima dos 13%.

Para a totalidade deste ano, o Governo prevê no Programa de Estabilidade entregue a Bruxelas no mês passado que a taxa de desemprego deverá cifrar-se em 13,2%, caindo face aos 13,9% registados em 2014. A esperança do Governo é que os sinais recentes de aceleração da actividade económica (que têm levado a revisões das previsões de crescimentos económico para este ano na zona euro e em Portugal) possam colocar de novo o mercado de trabalho em Portugal.

Nos segundo e terceiro trimestres do ano, em particular, a evolução da taxa de desemprego pode ser positivamente influenciada pelo facto de serem criados muitos empregos temporários em Portugal na época do Verão, especialmente no sector da restauração e turismo. Os dados trimestrais publicados pelo INE não são corrigidos da sazonalidade, pelo que tradicionalmente a evolução da taxa é mais favorável nestes trimestres.

Para já, durante os primeiros três meses deste ano, o que aconteceu foi um aumento do número de desempregados, uma redução do número de empregos existentes e uma estabilização dos valores da população activa e passiva.

O número de desempregados voltou a ultrapassar a barreira dos 700 mil que tinha conseguido baixar no terceiro trimestre do ano passado. Há agora, de acordo com os dados do INE, 713 mil desempregados em Portugal, mais 14.600 do que no trimestre anterior. Face a igual período do ano passado, são contabilizados menos 75 mil desempregados.

O número de pessoas empregadas, por seu lado, voltou a cair, também pelo segundo mês consecutivo. Desapareceram 14.500 empregos durante o primeiro trimestre deste ano. Face ao mesmo trimestre do ano passado, o balanço é positivo com a criação de 50 mil empregos.

A população activa em Portugal, por seu lado, manteve-se praticamente inalterada, depois de ter registado uma quebra muito significativa (cerca de 64 mil pessoas) no trimestre anterior. A população inactiva reduziu-se em cerca de 13 mil pessoas, o que é também o ritmo de diminuição do total da população residente que é estimado pelo INE para o primeiro trimestre deste ano, uma tendência que se mantém desde o início da crise da dívida soberana por conta de uma deterioração do saldo natural na população portuguesa e do aumento da emigração.

No primeiro trimestre, a taxa de desemprego entre os jovens (15 a 24 anos) subiu de 34% para 34,4%. E o desemprego de longa duração voltou a agravar-se, com 8,9% da população activa, ou seja cerca de 462 mil pessoas desempregadas há mais de um ano.

O número de desempregados aumentou especialmente no sector dos serviços (até houve uma redução na indústria e construção) e entre as mulheres (o número de homens desempregados diminuiu ligeiramente).

Ficou praticamente sem alteração o número de pessoas que, não sendo registadas pelo INE como desempregadas, estão certamente nas franjas do desemprego. Há 252 mil pessoas que estão em situação de subemprego, isto é trabalham a tempo parcial porque não conseguem encontrar um emprego a tempo completo. E há 257 mil pessoas que se podem classificar como desencorajadas, isto é, declaram-se disponíveis para trabalhar, mas não procuraram activamente emprego durante o mês em que foram inquiridas. Estas duas camadas da população, a serem consideradas para o cálculo da taxa de desemprego, fariam o seu valor subir em quase 10 pontos percentuais.